Engajar é diferente de motivar
Três pilares fundamentais no engajamento de times no longo prazo.
Por Gabriela Simão e Flaviz Guerra*
Já falamos aqui no Portal IMGP sobre como um turnover alto pode ser prejudicial para um time, principalmente quando se mantém elevado por longos períodos de tempo. Por isso é sempre importante trabalhar na forma de como engajar as equipes e evitar esse momento de rompimento das relações entre a equipe e a empresa.
Engajamento tem diretrizes e é um processo que pode ser proporcionado. Existe técnica. A técnica não se mistura com emocional e, portanto, não deve ser confundida com motivação.
Para exemplificar, aquela pessoa que está sempre “uau, oooow, bora” pode estar em momento pontual de excitação ou satisfeita por algum item da sua agenda ser contemplado. Mas isso não quer dizer que ela está engajada nos objetivos de longo prazo da empresa, não significa necessariamente que há um compromisso, uma garantia, que o envolvimento vai sobreviver aos altos e baixos motivacionais existentes em qualquer relação.
A literatura (extensa) sobre o assunto destaca vários pilares importantes no processo de engajamento. Liderança inspiradora, cultura organizacional, reconhecimentos e recompensas, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, relacionamentos internos e externos, autonomia, propósito, condições de trabalho… e por aí vai. Pela nossa experiência no mercado, destacamos 3 pilares fundamentais para começar um trabalho sólido e cadenciado de engajamento.
O primeiro deles (sem uma ordem de prioridade) é manter uma comunicação aberta. A comunicação é a base de qualquer relacionamento humano. Qualquer um. Uma comunicação aberta e eficaz é essencial para criar um ambiente de confiança e cooperação entre os membros da equipe e a liderança. Quando a comunicação flui livremente, as informações são compartilhadas sem barreiras, permitindo que todos estejam cientes dos acontecimentos, metas e desafios da empresa. Evidentemente esse tipo de comunicação também exige um alto grau de responsabilidade. Não se pode confundir comunicação aberta com uma comunicação irresponsável e descoordenada entre os agentes que propagam as informações.
Através de uma comunicação aberta, os funcionários se sentem valorizados e encorajados a expressar suas ideias, preocupações e sugestões. Isso não apenas aumenta o senso de pertencimento, mas também promove uma cultura de feedback construtivo, permitindo melhorias contínuas e aprendizado mútuo. Cultive o hábito de manter os envolvidos na conversa durante todo o processo. Evite a tentação de criar grupos de comunicação paralelos ou segmentados conforme tópicos sensíveis surgem. Isso é excludente e quebra a confiança de quem apostava no compartilhamento de informações.
Os dois próximos pilares vivem em interseção constante e são complementares. Um facilita a existência do outro: transparência e disponibilidade para conversas duras. Além da interseccionalidade das duas, elas dependem de uma premissa básica: no ambiente corporativo lidamos com adultos. Pessoas que vivem na era da informação, com acesso irrestrito a fontes de dados, a conversas, a troca de experiências. “Proteger” a equipe de uma verdade inconveniente é uma técnica da década de 90. A transparência é um componente crucial para a construção de confiança e credibilidade na equipe. É fato – permitam o clichê: pessoas engajam com quem criam conexões reais. Quando os líderes e gestores compartilham informações relevantes sobre decisões, estratégias, desempenho e até mesmo dificuldades enfrentadas pela empresa, os funcionários se sentem parte integrante do processo. Sem desconfianças, especulações (popularmente, fofoca). Pelo contrário, fomentando um ambiente de responsabilidade e comprometimento.
Quando você se abre de forma transparente, conflitos e desafios são inevitáveis. Se você não estiver disponível para conversar sobre isso com seu time, certamente o engajamento vai ser afetado. A disponibilidade para conversas duras deve ser irrestrita, pois estabelece o cenário de confiança. Você não pode estar disponível somente nos dias de sol e céu azul. Compartilhar momentos em conversas difíceis entre líderes e equipe vai lhe garantir laços mais fortes e maior engajamento de todas as pessoas ao longo do tempo. Prepare-se, esse tipo de comunicação vai gerar atrito e fricção num primeiro momento, até se criar o espaço de conexão entre as pessoas e o ambiente seguro.
Nunca se esqueça, em um ambiente corporativo você está lidando com adultos em uma era de informação irrestrita na ponta dos dedos. Fatos podem ser checados e informações circulam independentemente da sua vontade. Ser transparente, aberto e responsável, ajudará a manter um time engajado além dos picos pontuais de motivação.
*Gabriela Simão é Producer Sênior e Flaviz Guerra é Diretor Executivo de Produção & Operações da R/GA Brasil