O GP de agência x O GP de cliente

Nunca julgue aquilo que você não pode ver por completo. Aquilo que você apenas tem uma ideia de como pode ser. Aquilo que você não vivencia. Na verdade, não julgue nada, apenas se coloque no lugar do outro e aprenda.

Lição aprendida em 2022, quando, após mais de 13 anos trabalhando em agência de publicidade, fiz uma migração de carreira e passei a ser cliente. O famoso “fui para o outro lado do balcão”.

E foi aí que entendi o porquê aquela linha de “aprovação cliente” do meu cronograma precisava ser constantemente alterada. Porque eu sempre precisava dar a notícia de que a data de lançamento da campanha ia andar.

Enquanto o GP (Gerente de Projetos) de agência quer ver seu projeto andar e cumprir todos os prazos estabelecidos em cronograma, cobrando todas as áreas, cobrando o atendimento, cobrando a criação e revisando pauta de entregas, o GP do cliente está com esse mesmo projeto na mão, esperando sua vez para aprovar com inúmeras instâncias internamente aquele layout que parece simples e inofensivo, mas que se desdobra em todos os materiais do planejamento estratégico do ano.

Estar do lado do cliente significa ter que integrar a entrega da agência ou de qualquer outro parceiro com todas as ações que estão acontecendo internamente. Muitas vezes uma peça precisa conversar com a ação de endomarketing do time de Pessoas, com o layout do site que a tecnologia está produzindo, com a arte do e-mail que será disparado pelo CRM e com o discurso da equipe Comercial. O que de um lado é “só uma peça para aprovação”, do outro é um asset que impacta o trabalho de inúmeras pessoas.

Sabe aquele discurso que parece desculpa de cliente – “preciso esperar meu diretor voltar de férias para aprovar este copy” – ele existe, ele é real, não é desculpa. Muitas vezes o impacto daquele copy é muito maior do que podemos imaginar e somente algumas pessoas podem se responsabilizar por aquela aprovação, porque ela envolve questões de negócio.

E não é só porque agora estou do lado do cliente que deixou de dar razão para as inseguranças e ansiedades do GP de agência.

É muito complexo manter um fluxo funcionando sem conseguir cumprir as etapas pré-estabelecidas, sem ter total visão do que acontece do outro lado, tendo que respeitar prazos dados pelo cliente, que muitas vezes não conhece o esforço que aquela tarefa demanda.

O atraso de um step de aprovação pode (e na maioria das vezes, vai) impactar datas de campanha, reservas de mídia, alocação de equipe e gerar prejuízo, sendo normalmente absorvido pela agência.

Ser cliente, hoje, me dá a oportunidade de tentar fazer diferente, de enxergar as necessidades de quem está do outro lado, de saber o tempo e o fluxo de cada atividade, de entender a quantidade de pessoas envolvidas quando eu peço “só mais esse ajuste de texto”. Ter a bagagem de um lado para conseguir conduzir da melhor forma do outro é um privilégio e, simultaneamente, um grande desafio, mas eu aceitei.