Será que é tão ruim trabalhar no mercado publicitário

Eu tenho a percepção que trabalhar em agência virou sinônimo de muito estresse. Quando me perguntam onde eu trabalho e respondo que eu trabalho em agência, não importa qual profissão seja a pessoa (vai de dentista a manicure), o olhar é quase de pesar, já me olham com uma certa dose de piedade e expressam em palavras algo como “nossa, deve trabalhar muito…”

Percepção do trabalho em agências

Sim, trabalho muito. Não acho que trabalho mais que um médico plantonista ou um professor de escola pública, porém, meu trabalho parece não ter um propósito nobre.

Soma-se a isso toda a dinâmica, muitas vezes hostil, entre a agência e parceiros e clientes. Isso se estende para a relação, muitas vezes desigual e prejudicial, entre a agência e seus colaboradores.

Essa relação já melhorou muito (realmente muito mesmo), mas não o suficiente para evitar casos de síndrome de burnout. Contudo, esse evento não é um “privilégio” do mercado publicitário. Se fosse em sua maioria, talvez fosse mais fácil solucionar.

Importância das conexões no trabalho

Mas não cheguei aqui para trazer estatísticas sobre o aumento de casos ou sugerir soluções para evitar que eventos como esses aconteçam. Acho muito complexo chegar com soluções simples, dado que o contexto é formado por muitos pontos.

Quero, na verdade, refletir sobre a importância das conexões que temos no trabalho e a importância de se importar com o outro (e claro, com você mesmo também).

No último Bootcamp do IMGP, realizado em junho de 2024, minha aula sobre Gestão de Pessoas abordou o tema sobre síndrome de burnout. Eu levo esse tema porque acho importante falar sobre o assunto. Lembrar que isso ocorre e impacta diretamente na dinâmica de trabalho de todos.

Nesse dia, eu passei por um exercício que apresenta cenários que nos ajudam a entender se há um risco de termos uma crise. Eu reforcei o quanto é importante a gente compreender e identificar também os times, e assim entender se há alguém precisando de ajuda.

Logo após esse momento, uma das alunas se manifestou dizendo que, num passado recente, passou por um burnout e comentou que, apesar de vários sintomas, não percebia que estava passando por um processo de burnout. Ela ainda reforçou que é difícil entender que estamos passando por isso ou falar sobre o assunto, já que existe o constrangimento de ser julgada como uma pessoa fraca.

Eu nunca fui tão grata por um depoimento em sala de aula. Ela só reforçou algo em que eu acredito muito: se queremos ajudar, precisamos olhar de verdade para as pessoas.

Exemplo de uma experiência próxima

Isso me lembrou de um caso de uma pessoa próxima no trabalho que teve a bandeira do burnout levantada por uma amiga do trabalho. Durante uma conversa informal entre eles, ela disse: “Amigo, acho que você não está bem.” Ele já tinha notado que não estava, mas isso só reforçou a necessidade de procurar ajuda. Ele ficou afastado por um tempo do trabalho, se recuperou e se reintegrou, e até o momento segue na mesma agência.

Reflexão sobre o mercado e as conexões

O que eu quero dizer é que talvez a gente não consiga resolver o todo, o ambiente publicitário é bem complexo e a mudança cultural é um processo mais lento. No meu último encontro da formação Gestão de Operações, parecia que eu estava pessimista ao dizer que o “nosso mercado” (publicitário) dificilmente vai mudar (curto prazo). As relações disfuncionais que ainda ocorrem não vão ser sanadas em curto/médio espaço de tempo.

Eu só coloquei o meu ponto de vista depois de uma pessoa relatar um processo de desgaste no trabalho muito severo. O que eu queria reforçar? A gente deve tentar encontrar soluções ou pelo menos caminhos de convívio (e dei sugestões para ela elevar a conversa sobre o assunto internamente), por nós e também pelas pessoas que estão lá e querem fazer o melhor. 

Isso quer dizer que é ruim trabalhar nesse mercado? Não! Se você faz o que gosta, e consegue utilizar suas habilidades e talentos ao máximo onde trabalha, e segue aprendendo e se desenvolvendo, com certeza tem momentos de felicidade (claro, desde que o lugar não seja insalubre). Melhor ainda quando isso é somado a conexões verdadeiras com as pessoas no trabalho.

Assim como (eu imagino) em todas as áreas, teremos altos e baixos. Eventos que estão totalmente desconectados dos nossos valores e, principalmente, passaremos por momentos de estresse, ansiedade e, se não cuidarmos, por uma crise qualquer.

Portanto, devemos nos esforçar para criar um ambiente de trabalho mais humano e solidário, onde conexões verdadeiras possam florescer e proporcionar apoio mútuo em momentos de necessidade.


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