Aprenda observando a liderança

A essa altura do campeonato, você, que nos segue aqui neste portal especializado em gestão de projetos, já deve ter reparado que o tema “Liderança” é presença constante em artigos e debates no Mestre GP. Neste artigo, exploraremos como podemos aprender valiosas lições apenas observando as posturas, condutas e ações das pessoas que exercem a liderança.

Ponto de partida: a diferença entre chefe e líder

Já não estamos mais na era dos chefes onde temos aquela pessoa que 

  • Foca em tarefas e resultados imediatos;
  • Abusa do poder hierárquico;
  • Dá ordens;
  • Se comunica unidirecionalmente, interagindo pouco e sem feedback;
  • Motiva baseado em medo ou autoridade;
  • Vê entregas como obrigação;
  • Toma decisões centralizadas;
  • Foca puramente na conclusão das tarefas;
  • Promove cultura de comando e controle.

Hoje em dia a figura de liderança

  • Lidera pelo exemplo;
  • Encoraja;
  • Cria um ambiente de colaboração;
  • Se comunica bidirecionalmente, ouvindo ativamente e valorizando feedback;
  • Motiva baseado em valores intrínsecos, compartilhando objetivos;
  • Vê entregas como celebrações de conquistas;
  • Envolve a equipe na tomada de decisão;
  • Fomenta o desenvolvimento das pessoas;
  • Promove cultura de confiança e inovação.

Percebe-se então que o imediatismo e decisões baseadas na hierarquia perderam espaço com a mudança de mentalidade mais centrada na equipe como uma força potencializadora do que como uma força meramente executora.

A importância da observação

Claro que a base teórica é fundamental, e é bacana conhecer diferentes modelos de liderança. Contudo, nada como o aprendizado ativo e prático. Observando líderes eficazes, podemos modelar comportamentos, atitudes e estratégias em situações semelhantes em diferentes níveis. A identificação de padrões de comportamento, principalmente em contextos intensos como crises, levanta nossos olhos para atitudes que realmente fazem a diferença em contextos críticos.

A observação, quando vinda de objetos de inspiração, torna-se referência de comportamento. Advinda de uma influência de liderança na operação do dia a dia, a observação ativa é fundamental. 

Porta-voz da cultura organizacional

Uma das observações mais honestas que se tem é em relação à forma como sua liderança atua como pessoa promotora da cultura da organização. Esse papel contribui ativamente em projetar comportamentos esperados pelo board executivo aos seus liderados, seja em comunicação, respeito, posturas, atitudes e mesmo ao compartilhar sua rotina profissional. Se a liderança tem longas e exaustivas jornadas de trabalho, a mensagem que ela passa a todo o time é que para crescer na empresa é necessário sacrificar sua vida pessoal. Por outro lado, ao promover a saudabilidade e sempre sugerir práticas humanas nas interações, a liderança também carimba o que a empresa espera de alguém num papel que possui autoridade e influência a pessoas que estão em outro tipo de carreira na organização.

Motivação e engajamento

Compartilhar claramente a visão de propósito e do futuro ajuda a conectar o trabalho diário ao caminho que a organização vem traçando, também fazendo com que o time veja o real impacto de seu trabalho no todo. Essa é uma perspectiva bem diferente de quando somos demandados o tempo todo a apagar um (ou até dois) “incêndios” por dia, atestando que estamos presos dentro de um domínio caótico.

Delegar é fundamental, e líderes também devem ter essa habilidade para que consigam cumprir suas responsabilidades dentro do horário de trabalho. Com a equipe sendo uma extensão tática e operacional do líder, pessoas se sentem capacitadas para inovar e melhorar processos sem medo de falhar. Em um ambiente saudável e mais descentralizado, a participação ativa dos membros acontece naturalmente sem que as pessoas sejam perguntadas sobre o que pensam em uma decisão coletiva. Observe se seu líder fomenta esse tipo de ambiente e se ele costuma te convidar para expor o que você pensa sobre determinadas situações que te dizem respeito ao invés de somente te informar sobre decisões.

Autonomia não é somente um sonho de liberdade, mas também uma necessidade dentro do protagonismo de nossas próprias carreiras. É responsabilidade da liderança estimular esse senso para que as pessoas se sintam aptas a melhorar processos sem medo de falhar. 

Oferecer oportunidades de desenvolvimento é outro aspecto a ser observado em sua liderança. Não é somente “entrega”, mas também refino de nossas posturas acompanhadas por uma gestão adequada. Certa vez, recebi a orientação de dedicar ao menos 1 hora do meu dia de trabalho para minha evolução pessoal, com cursos, estudos, oportunidades de melhorias de projetos e processos. Aproveitava esse tempo e a cada 2 semanas tínhamos uma rodada de validação de hipóteses e experimentação – tudo isso enquanto o projeto estava ativo. Me senti ativamente acompanhado por alguém que se importava não somente com o projeto do cliente, mas também com minha própria evolução. Me espelho nele até hoje.

Feedback

Esse tópico é tão importante que merece um título à parte. 

Observe se sua liderança tem como parte de seu mindset a capacidade de dar e receber feedback. É algo simples de ser observado no dia a dia. 

Aplicar feedback não é agradecer por você ter realizado uma tarefa. É conseguir te pontuar como você foi bem no que fez e como poderá melhorar em uma futura oportunidade. Não é só te chamar de canto em momentos decisivos, mas sim fazer da prática uma rotina. Feedback é uma habilidade que incorpora respeito na relação entre líder e liderado. Sim, respeito, pois é uma condução formal e digna de assumir a frente da gestão com educação e apoio ao profissional que está em um momento diferente de sua carreira.

Receber feedback também vai por aí. Observe a reação da sua liderança quando você compartilha como está se sentindo, ou ainda quando traz contextos e sugestões de melhorias para ações. Feedback deve ser recebido e, a menos que seja trazido sob uma perspectiva totalmente distorcida na qual vale a retratação com respeito e sem violência, deve ser absorvido e refletido. Um ponto de atenção é quando há muita justificativa de comportamentos.

Momentos de feedback são únicos e especiais. Fomentam e solidificam relações que à primeira vista parecem meramente profissionais e que, sem pretensão de se tornarem mais do que isso, podem sim se aprofundar para que ambas as partes se inspirem em trabalhar em colaboração de forma ainda mais eficaz. Aperfeiçoar nosso círculo próximo também é contribuir para toda a roda de oportunidades que auxiliamos a rodar.

Resolução de conflitos

Como gestores de projeto, o que mais tem no nosso dia a dia – além de daily meeting –, é o conflito. Lembrando que conflito é diferente de confronto, temos que ter habilidades para resolver conflitos diariamente, muitas vezes ao dia.

Temos conflitos com o cliente por questões de escopo, qualidade, comunicação, pessoal, entregas, produtos. Temos conflitos internos por conta de visões estratégicas, táticas, operacionais. Temos conflitos de personalidade, de aceitação, de ego… a lista é imensa. Em cada parâmetro há possibilidade de existir conflitos. Observar como a liderança se porta na condução e resolução desses problemas é uma oportunidade incrível para que você tenha bagagem quando você for a pessoa responsável na resolução de seus conflitos.

Se pergunte: o que você faria nessa situação? E observe como a situação será conduzida. Mapeie as etapas da resolução, riscos, desafios… faça esse exercício. E se atente para os sinais do ambiente, porque eles indicam também o quão bem sucedidos estão sendo os passos dados nesta resolução.

Por fim, alguns exemplos

Não há como fugir: quando falamos de referência e inspiração, pessoas no papel de líderes são observadas e suas atitudes são base para comportamentos projetados para o time. Vejam o impacto de Satya Nadella na Microsoft, transformando o modelo de negócios individualizado para a referência de soluções corporativas no oferecimento de tecnologia para empresas. Você pode até não gostar dos produtos Microsoft, mas sua empresa provavelmente gosta. Evoluções em nuvem, inteligência artificial e até mesmo a rede social que você com certeza está – o LinkedIn –, fazem parte da gama de produtos Microsoft. Não que Nadella tenha sido o único responsável, mas com uma postura firme, inspiradora e que não tem receios de liderar ativamente a transformação coletiva, não resta dúvidas que não é à toa que a Microsoft superou a Apple como a empresa mais valiosa do mundo.[1] Seus colaboradores têm a quem referenciar.

Para não me estender muito, também gostaria de citar uma pessoa fora do âmbito corporativo, para declarar que a liderança não se estende somente ao mundo das empresas. Em meio ao cenário contemporâneo de tanto extremismo e dificuldade no acesso à educação, Malala Yousafzai se transformou em uma liderança (inicialmente local) nessa luta. Em meio a tantos riscos em uma cultura muito conservadora, Malala foi inclusive atacada por armas de fogo por conta de seu ativismo político em prol da educação das crianças e das próximas gerações. Se tornou a pessoa mais jovem na história a receber o Nobel da Paz e se consolidou como referência para crianças e jovens. Em meio a dificuldades, a liderança surge também como forma de desobediência civil e transgressão contra o que nos barra de expandir além das regras limitantes da sociedade.

E você, nisso tudo?

Caso você almeje esse papel, busque se inspirar em quem te coordena, em quem faz sua gestão. Essa pessoa não é somente responsável por te ajudar a ser promovida ou evoluir profissionalmente, mas também para te espelhar uma base de valores e atitudes em prol do que você busca.

Pra você que hoje é uma liderança, lidere pelo exemplo. Seja correto, justo, honesto. Respeite e tenha consciência de que há muitos olhos no que você faz, em como se comporta, e, principalmente, em como você faz questão de ser com outras pessoas. A manutenção do seu time pode ser decidida no fato de as pessoas quererem trabalhar com e para você.

Referências

[1] Microsoft ultrapassa Apple e se torna empresa mais valiosa do mundo (https://gizmodo.uol.com.br/microsoft-ultrapassa-apple-e-se-torna-empresa-mais-valiosa-do-mundo)


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