Todo mundo já se perguntou isso uma vez na vida: o que é sucesso?
Todo profissional, em algum momento da sua carreira, já se questionou o que é sucesso. Talvez, tenha tirado algumas horas do dia ou mesmo uma sessão da terapia, ou ainda feito uso do ombro amigo ou do confidente para desabafar sobre as mazelas do mundo e se questionar sobre o famigerado sucesso.
Além de publicitário, empreendedor, consultor e psicanalista (já me questionei muito sobre sucesso) faz anos que atuo como professor universitário, em cursos de Publicidade e Propaganda e Propaganda e Marketing. Uma das interrogações que jogo para meus alunos é a respeito do que é sucesso.
Os questionamentos acontecem quando peço que exercitem a imaginação e coloquem no papel sua missão, visão, valores e, o difícil mas não impossível, propósito. Pergunto a eles – assim como já perguntei a muitos outros profissionais.
Afinal, o que você espera da sua carreira? Quais são seus objetivos? O que é sucesso para você?
Posso afirmar com segurança que grande parte das respostas relaciona sucesso a ganho financeiro, não importando como ele acontecerá. Alguns, mais cientes sobre seu percurso, associam a ser bem reconhecido, a ter um excelente cargo, conquistar experiência internacional e, por fim, liberdade financeira.
No que tange ao percurso profissional, o sucesso financeiro é algo apontado como um objetivo em si mesmo e sempre questionei se, de fato, é um objetivo. Não me entenda mal, vivemos em um sistema que privilegia a posse e a troca monetária pela conquista de conforto e bem-estar, portanto, dinheiro é importante sim.
Todavia, será mesmo que a conquista financeira é a finalidade? E qual é o custo desse sucesso?
Desde a pandemia abordamos a saúde mental como ponto focal nas organizações, já que o adoecimento da “alma” se revelou (sempre foi na verdade – Freud, que o diga) de uma seriedade enorme, impactando a produtividade, a sociabilidade e a vivência de muitas pessoas e, também, de muitas empresas.
Uma amiga psiquiatra comentou comigo algumas vezes que após a pandemia veríamos outra epidemia de saúde mental. Não sei se podemos categorizá-la assim, mas é verdade que as pessoas estão adoecendo mentalmente com mais frequência.
Uma das agências com as quais já trabalhei oferecia e oferece palestras sobre saúde mental para os seus colaboradores como atividade regular. Gosto muito dessa estratégia, pois alimenta de boa informação e esclarecimento aqueles que sofrem, mas não conseguem nomear seus sofrimentos e, também, municia de orientações aqueles que convivem com o sofrimento alheio e não sabem como agir.
Em um artigo publicado no site da ABERJ (2022), há dados bem contundentes sobre a saúde mental de trabalhadores levantado pela ADP Research Institute: O mesmo levantamento, no entanto, mostra que a saúde mental precária está afetando negativamente o trabalho de cerca de metade (51%) dos trabalhadores na América Latina, com a produção mais afetada no Brasil (54%), seguido pelo Chile (49%) e Argentina (38%). (fonte: https://aberj.com.br/pesquisa-aponta-que-maioria-dos-brasileiros-estao-dispostos-a-mudar-de-carreira-em-nome-do-sucesso-profissional/).
Estamos adoecendo muito e, talvez, agora possamos categorizar esse momento como uma nova epidemia. Segundo essa pesquisa, 54% dos entrevistados se veem afetados por algum tipo de problema relacionado à saúde mental. É uma catástrofe.
Um dos eixos para tanto sofrimento é, a meu ver, a ideia equivocada que fazemos sobre sucesso. Portanto, vamos tirar um pouco do peso da palavra e entendê-la a partir de seu sentido dicionarizado: sucesso é o resultado positivo de alguma ação. Simples assim!
Sucesso não quer dizer ter o melhor cargo, o melhor salário, a família mais bonita, o carro do ano, um imóvel na praia, ou ter outras tantas coisas. Arrisco a dizer, que sucesso não está relacionado a ter.
O ter, a posse em si é sempre passageira e, portanto, angustiante já que é possível perdê-la. Então, considerar o sucesso como uma cadeia de posses é, com certeza, viver uma série de angústias e performar uma vida que vai se esvaziando de sentidos mais importantes.
A chave precisa mudar: sucesso não é igual a ter.
Por isso, eu tenho sobreposto a ideia de sucesso ao conceito de propósito.
Ainda segundo pesquisa apresentada no artigo da ABERJ (2022) e realizada pela ADP Research Institute, com cerca de 33 mil trabalhadores, em 17 países. O estudo mostra, por exemplo, que quatro em cada cinco entrevistados (81%) consideraram realizar migração de carreira nos últimos 12 meses (fonte: https://aberj.com.br/pesquisa-aponta-que-maioria-dos-brasileiros-estao-dispostos-a-mudar-de-carreira-em-nome-do-sucesso-profissional/). Ou seja, a ideia equivocada de sucesso faz, em muitos dos casos, que não nos sintamos alinhados com nosso trabalho e com nossas conquistas. E, talvez, nunca alcancemos esse alinhamento, por isso é importante entender o que é o sucesso em si, ou melhor ainda, é preciso transformá-lo em propósito.
O sucesso precisa de métrica, de definição de KPIs que possam medi-lo a partir de objetivos traçados e isso é bem importante, mas tem mais sentido quando associado aos processos e não às pessoas.
Uma boa anedota para isso é a resposta de uma amiga em uma entrevista de emprego, quando perguntada sobre onde se via em alguns anos e ela disse: com certeza, morando na praia. Talvez, o entrevistador quisesse escutar algo relacionado ao desenvolvimento da carreira na agência, enquanto ela estava mais interessada em desfrutar a vida na praia como sua visão de sucesso.
Essa resposta tem muito mais relação com o propósito de vida dela, do que com a imagem sem graça que fazemos do sucesso.
Para concluir seguem algumas ideias sobre as diferenças, que a meu ver fazem sentido, entre sucesso e propósito.
Sucesso se esfumaça no ar, porque está relacionado à posse; o propósito nos dá um sentido e um motivo para continuar. O sucesso financeiro é acumulativo; o propósito é coletivo e compartilhável. O sucesso esgota; o propósito multiplica.
Enfim, a pergunta final é: faz mais sentido alcançar o sucesso ou encontrar seu propósito?