Carreira de Projetos na publicidade brasileira
Por Gabriela Simão e Flaviz Guerra*
Gestão de Projetos é uma área relativamente nova na publicidade brasileira com muitas oportunidades para desenvolver uma carreira.
A carreira de uma pessoa de Projetos no mercado publicitário brasileiro não tem um extenso histórico e legado de referências para análise. Por conta disso, são cada vez mais recorrentes as perguntas em torno do que é preciso para ter uma formação sólida e como se desenvolver nos caminhos possíveis dentro da profissão. Por onde começar? Quais métodos seguir? Quais são as possibilidades que esse mercado pode apresentar no futuro? Esses são alguns exemplos das perguntas recorrentes que nós, profissionais da área, escutamos recorrentemente. Não faz parte da história da publicidade brasileira o conceito de existir uma área de Gestão de Projetos dentro da agência. A figura de uma pessoa ou área que seja exclusivamente responsável por organizar as demandas, definir os objetivos do trabalho, coordenar as etapas de produção com seus custos e tempos envolvidos, e ainda avaliar internamente a qualidade das entregas, é uma exigência recente do mercado.
A necessidade é mais prática e menos romântica: precisa-se hoje de uma área de Gestão de Projetos essencialmente porque as demandas cresceram muito dentro das agências e a busca por eficiência (processual e financeira) se tornou obrigatória. Sem um histórico claro de como fazer para chegar à gestão de projetos, muitos profissionais acabam migrando de outras áreas dentro da própria empresa. Não é raro encontrar profissionais de Programação, Atendimento ou Administrativo buscando um novo passo dentro da carreira de Gestão de Projetos. Em comum, sempre vamos encontrar nesses profissionais um viés mais forte da busca pela organização do trabalho, pela arrumação, pela busca de solução de problemas, pela organização dos passos que devem ser tomados e por uma busca mais horizontalizada dos conhecimentos das áreas que possuem a necessidade de desenvolvimento na execução da entrega planejada. E é nesse cenário de convergência entre vários perfis de profissionais para a mesma carreira que surgem as dúvidas e os conflitos sobre por onde seguir na carreira.
Dentro do mercado publicitário você pode trabalhar com a criação e o desenvolvimento de um novo aplicativo para celular, em uma promoção, em eventos presenciais ou em campanhas para veículos de comunicação. Tudo é Projeto e tudo precisa de uma pessoa liderando esta gestão. Com esses desafios pela frente, também surgem possibilidades maiores de verticalização do seu conhecimento, forçando você a buscar mais profundamente em um tipo de entrega específica. Um exemplo bastante popular atualmente é a especialização em desenvolvimento de aplicativos e produtos digitais. É possível encontrar nas empresas de comunicação, Product Managers e Product Owners, que são profissionais altamente focados e especializados em metodologias ágeis, e conhecedores não só dos rituais de suas metodologias – colaboração, planejamento, cadência de atividades etc -, como também, de ferramentas e técnicas para avaliação de modelos e regras de negócios.
Mesmo com a escolha de um caminho de especialização como o citado no exemplo acima, é preciso manter espaço aberto para uma abordagem mais compreensiva da Gestão de Projetos. Isto é fundamental porque, em sua essência, o profissional de Projetos deve ser extremamente habilidoso na forma de lidar com mudanças tanto no cenário micro quanto no macro, ou seja, não apenas internamente em seu projeto como também, no cenário econômico no qual ele está inserido. Exemplo? O cliente solicita uma redução no prazo de publicação de uma nova campanha para responder à uma ameaça de um concorrente, como o lançamento de um novo produto, por exemplo. A habilidade de lidar com essa nova premissa de projeto, que é um novo prazo, e oferecer planos alternativos para sua execução – que envolve organização do trabalho, os próximos passos a serem tomados etc – é que vai definir o sucesso da gestão deste projeto.
Um ponto crucial nessa jornada de desenvolvimento é o controle da ansiedade natural que acompanha a função. A pessoa gestora de Projetos precisa ter uma visão completa de todas as etapas e planejar com o time tudo o que será feito. Ao mesmo tempo que ela domina esse conhecimento e conduz o andamento do projeto dentro da agência, ela tem que respeitar o tempo e os processos internos de cada área e função. Esse conflito interno é um ponto de atenção para os níveis de estresse e ansiedade do profissional: de um lado, o escopo e o prazo a serem cumpridos. E do outro lado, as necessidades intrínsecas de cada área para fazer o trabalho. Nesse ponto não há fórmula mágica no Excel, coaches no Tik&Tok ou atalhos: é necessário, sim, ter bagagem profissional e ter vivenciado desafios em diferentes tipos de projetos e situações. No melhor cenário para acelerar esse aprendizado, busca-se um ambiente profissional que tenha uma área de Projetos já estruturada e colaborativa, onde os demais profissionais aceleram o seu desenvolvimento repassando aprendizado e compartilhando experiências passadas. Associar-se a um ambiente desses é um caminho que não só acelera o desenvolvimento como enriquece o repertório da pessoa.
Nessa jornada, sempre tenha em mente que a habilidade de pensar e repensar é fundamental, juntamente com a observação, a escuta atenciosa e empática, e participar do projeto em sua totalidade. Estar presente numa reunião em que todas as pessoas falam ou em uma reunião de atualização do projeto é diferente de participar destas reuniões e do projeto em si. Presença é diferente de participação. Esteja sempre em posição para contribuir com a melhoria da entrega do projeto e, principalmente, contestar suas próprias premissas e planos. Seja por experiência vivida e/ou por convivência em um ambiente estruturado, é importante manter a atenção na abordagem que vai conduzir o desenvolvimento de sua carreira. A pessoa que quer enfrentar esse desafio tem que ter em mente que sempre deve estar um passo à frente na análise da evolução do projeto.
Enquanto as demais áreas envolvidas buscam focar em suas entregas específicas, estamos olhando a próxima fase, com um olhar crítico para retirar os impedimentos e obstáculos do caminho do time. Essa análise nunca pode ser superficial e focada somente nas entregas. Deve-se sempre avaliar o escopo, o que precisa ser entregue, os custos envolvidos – se ainda há recursos disponíveis para fazer todo o trabalho – e se todas as premissas foram atendidas. Para controlar os níveis crescentes de ansiedade ao longo do processo, tenha consciência que é seu papel estar pronto para repensar os planos do projeto, seja por conta de mudanças no cenário previsto ou por simplesmente uma necessidade de evolução identificada. Uma boa pessoa de Projetos sempre se destaca quando já se tem mapeados, desde o início, os planos de contingência com os custos materiais, humanos e de tempo, e os impactos bem definidos.
Nessa posição, é fundamental ser aberto para novas iterações no seu projeto e para repensar constantemente o que precisa e como deve ser feito.
*Gabriela Simão é Producer Sênior da R/GA Brasil e Flaviz Guerra é Diretor Executivo de Produção & Operações da R/GA Brasil