Foco no sistema, não somente nos objetivos
“Conto com você para garantirmos a entrega no dia 20.”
Praticamente impossível, você pensa num primeiro momento…
Mas agora é se dedicar para tentar fazer acontecer.
Faz a gestão da equipe, o possível e o impossível para virar o jogo de um cenário no qual a entrega já tinha data acordada, mas tudo parecia conspirar contra o objetivo.
Você até cogita contactar diretamente o presidente para destravar aquele bloqueio.
Algumas horas extras eventualmente acontecem.
Mas no dia combinado para o Go Live, tudo acontece como deveria. Alguns probleminhas contornáveis e previsíveis, mas nada fora do script.
Sucesso.
Vocês conseguiram!
Alívio e sucesso.
No dia seguinte, te chamam para uma sala e mais um projeto de alta complexidade para ser entregue em uma data recorde.
E aí, vai começar tudo de novo?
Trabalhar e viver orientado a objetivos é a sina de Rocky Balboa, inesquecível personagem de Sylvester Stallone, em sua luta contra Creed. Mesmo perdendo (na versão brasileira rolou empate), o objetivo é levemente distorcido e Rocky sai feliz ao lado de Adrien.
O ponto de toda essa introdução é que essa história frequentemente condiz com muitos dos projetos que consideramos “desafiadores” em nossa trajetória. Temos a obrigação de entregar um projeto naquele prazo apertado porque a data já foi estipulada por pessoas que não acompanham a complexidade sobre o tempo de produção saudável de um dia a dia operacional. Ou ainda porque a campanha já foi para as gráficas com a data pré-estabelecida. Nenhum gerente de projeto foi envolvido para validar e aprovar o cronograma, seja tradicional ou sob uma perspectiva ágil, mas ainda assim a data está cravada na pedra e nada, absolutamente nada, fará com que essa data mude – a menos que um fornecedor falhe e o prazo é magicamente postergado em alguns dias.
Acontece. Porém, cabe ao gerente de projetos, após a tão suada e merecida entrega, olhar para as coisas sob um prisma diferente, apontando que há inúmeras oportunidades de evoluções sistêmicas para deixar de ser orientado aos objetivos e passar a ser orientado a melhorias.
Começamos pelo fato de que atingir os objetivos é comemorar temporariamente uma conquista: amanhã começa tudo de novo e rumo ao próximo objetivo. Visualizar as expectativas sob uma perspectiva sistêmica faz com que atinjamos evoluções dia após dia, nem que seja 1% (link = https://www.americanas.com.br/produto/678437821/livro-cresca-1-ao-dia). O foco no objetivo é booleano demais para deixarmos de considerar todo o aprendizado adquirido ao longo do processo. Além disso, só olhando para o fim, deixamos de apreciar a bela paisagem que se apresenta ao nosso redor conforme vamos caminhando. Deixamos também de celebrar as pequenas conquistas, focando somente na Maior, na Única. A satisfação pode ser deixada de lado assim?
Quer motivar a equipe com um discurso? Tanto quem consegue, como quem não consegue, tem o mesmo objetivo. O ponto é que quem consegue pode conseguir mais vezes evoluindo seu modus operandi, buscando facilitar as conexões e se masterizando na arte de fazer acontecer nos únicos contextos em que vocês estão. Não é chegar lá que os diferencia, mas sim como chegaram lá.
Com a melhoria contínua do sistema, você pega o atalho da adaptação ao meio e automatiza pensamentos e raciocínios fadados a surgir somente em momentos de crise. Seja aquela pessoa que passa o tempo suficiente pensando no sistema, nos fluxos e processos. Faça parte das equipes que buscam refinar e azeitar as expectativas de comunicação, de entrega, de apresentações e propostas com a frequência que te desafia.
Olhar só para o termômetro da entrega é, como diz James Clear, jogar uma partida e ficar olhando o tempo todo para o telão. Nem sempre o placar condiz com o real resultado. Objetivos são indicadores das metas, mas a mensuração da maturidade do sistema indica o nível de evolução. Corporativamente, os goals são vistos como as conquistas a ser celebradas. Internamente, o progresso acontecendo é que traz a felicidade genuína.
O objetivo é, sim, importante. Mas depende do peso atribuído a ele — não em sua prioridade, mas no que ele representa.
Inspirado livremente no livro Atomic Habits (link = https://jamesclear.com/atomic-habits), de James Clear.