O gerente de projetos halterofilista
Nas últimas décadas, provavelmente provocado pela revolução tecnológica temos percebido uma dinâmica bastante eufórica no mercado de trabalho em geral. Esse processo tem sido relativamente mais acentuado nos seguimentos de comunicação, tecnologia da informação e desenvolvimento de produtos.
Cada dia que passa as coisas se tornam mais competitivas, novas exigências são adicionadas ao perfil profissional para atuar nesses segmentos. Bem, até aqui nada de novo, porém, há uma nova habilidade que tem sido cobrada com mais frequência do que deveria. É a do profissional halterofilista.
Sabe aquele atleta que suporta um peso “x” vezes maior que o próprio peso corporal? Os recordistas de levantamento? Funciona assim: Mais que graduado, pós-graduado. Certificado, habilidoso com pessoas e processos. A pessoa precisa suportar, aguentar firme, e sobretudo, ‘engolir o choro’. E ainda, tal qual o atleta, é imprescindível se superar nessa “habilidade”, ou seja, cada dia carregar mais peso, senão, tá fora.
Neste cenário, não basta ser gerente de projetos super certificado, scrum master ou product owner. Como também, não há nenhuma certificação que prepare o profissional para este momento. Ele precisa ser qualificado em aguentar.
Ser um GP do tipo halterofilista, quase nunca é bom, mas nem sempre é ruim. Isso depende muito do momento de carreira que você está e onde quer chegar. Entretanto é importante ter cuidado com a dosagem de esforço empenhado em uma atividade. Equilíbrio é essencial, pois esse tipo de atuação pode trazer consequências negativas para sua vida e saúde. Além de comprometer o resultado do próprio projeto.
Atualmente existe uma persona do GP de fácil identificação em meio a multidão. Em geral, mais falante, anotador, perguntador e completamente viciado na entrega e na resolução. Essas características facilmente podem evoluir para o halterofilismo profissional.
Assim, se você está no início de carreira, ou num momento em que está apostando alto em algo, faz algum sentido uma postura mais agressiva. A tal “milha a mais”. Entretanto, os gerentes de projetos mais experientes, sabem o quão viciante é esse processo e como ele pode comprometer o resultado. Trabalhar horas e mais horas extras, aguentar a pressão, redução de prazo e acréscimo da meta, culminam em uma seção de elogios, do tipo “Clovinaldo é muito comprometido, com ele não tem tempo ruim”. Ou, “Altemar é faca na caveira, para ele, missão dada é missão cumprida”. Mas elogios duram pouco, não pagam nem a terapia.
Além disso, um GP viciado em aguentar firme leva o time do projeto ao desgaste físico e emocional. Com isso, perde o maior recurso de seu processo de gerenciamento. A confiança do time no plano e na gestão.
Assim, precisamos compreender que a principal ferramenta para um bom gerente de projetos é a temperança. Com ela, se pode ter clareza adequada entre o que se quer fazer e o que se deve fazer. E ainda, que muitas soluções precisam ser compartilhadas e resolvidas em outras instâncias.
Muitos halterofilistas levantam e suportam muito peso. Mas somente os melhores sabem quanto peso aguentar por quanto tempo para não morrer esmagado.
Bons jobs!