O essencialismo na jornada dupla: ser mãe e ser líder
Há quase 4 anos faço, junto com meu marido, jornada dupla de trabalho. Das 6h às 9h da manhã, somos pais; das 9h às 19h, sou diretora de Projetos e ele gerente de Produto e, das 19h até a manhã seguinte, voltamos a ser pais. Só que essa é a rotina ideal, e não a real. Bom seria dividir o tempo dessa forma tão precisa. Não adianta, mesmo quando estou com meu filho, penso no trabalho. Quando estou no trabalho, penso no meu filho. Vale ressaltar aqui que somos muito privilegiados e temos uma rede de apoio maravilhosa no nosso dia a dia.
Na pandemia as coisas se misturaram ainda mais. Quantas vezes você ouviu os filhos de algum colega de trabalho gritando no meio de uma videochamada? Ou uma mãe fazendo reunião enquanto ninava o filho no colo? Quantas vezes você viu pais e mães acompanhando os filhos na aula online e fazendo – ao mesmo tempo – uma ligação de trabalho? Hoje em dia está tudo junto e misturado. E é por isso que temos de acolher, aceitar sem julgar e o mais importante: fazer escolhas.
Há algumas semanas comecei a ler o livro “Essencialismo – A disciplinada busca por menos”, de Greg Mckeown. Nas primeiras páginas já identifiquei que sou uma pessoa (e profissional) completamente “não essencialista”. O pensamento de “tenho que fazer, tudo isso importa, preciso dizer sim para isso, não posso recusar esse pedido, estou exausta, mas vou fazer…” atormenta todos os meus dias. Mas como ser efetiva, fazer entregas corretas e ter tempo de qualidade com meu filho e minha família se tudo é prioridade?
Existem momentos em que precisamos escolher a briga que queremos comprar. Abrir mão de algumas coisas e dizer não para algumas pessoas faz parte do processo, e a gente precisa aceitar esse “não” de forma positiva.
A posição de liderança, que traz a “carga” de ser um exemplo para o time, cumprir processos, orientar sua equipe para também cumpri-los e fazer suas entregas com qualidade, traz também o medo de dizer “não”, de parecer não dar conta, de priorizar o almoço com a família, de não estar disponível o tempo todo.
Quando viramos líderes, precisamos aprender a desapegar de algumas coisas, dar autonomia para as pessoas da equipe e confiar que elas farão do jeito delas e, mesmo que você não concorde, não significa que está errado, só é diferente do seu. A posição de liderança traz a responsabilidade de formar pessoas, e se você não permitir que essas pessoas se desenvolvam, não estará fazendo seu papel da melhor forma. Os liderados precisam se sentir seguros em dizer “não” para você também. Confiança e transparência são elementos fundamentais dessa relação.
Dentro deste cenário em que estamos vivendo, no qual se mistura muito a vida profissional com a pessoal, busco diariamente trabalhar o que é essencial naquele momento. O livro fala muito sobre ESCOLHER TER ESCOLHA. É um processo muito difícil (pelo menos para mim) ter de escolher o que eu vou entregar, para quem eu vou dizer não, o que eu vou deixar para amanhã ou simplesmente optar por não fazer porque não cabe naquele momento. Mas, acredite, se você não escolhe, alguém vai escolher por você e, a partir daí, perde-se o controle de absolutamente tudo.
Existe em mim uma busca incansável por ser uma pessoa essencialista. Estou bem longe de ser, mas a consciência existe e o direcionamento também. Agora preciso começar colocar em prática. Vamos tentar?
Às 20:30, enquanto escrevia esse texto, meu pequeno Davi me perguntou: “Você vai trabalhar agora de noite? Você não trabalha só de dia?”. E então eu escolhi encerrar por aqui e assistir a um filme com ele. Por quê? Porque sim!