Meu colega de trabalho está com sintomas de Burnout, o que eu posso fazer para apoiá-lo?
Não é de hoje (como já sabemos), mas ainda é frequente a quantidade de pessoas afastadas do trabalho por transtorno de ansiedade e Burnout. E por isso, aproveitando o momento crítico que estamos passando, quero trazer nesta leitura, o ângulo de quem presencia colegas de trabalhos sofrendo de algum transtorno.
Definição de Burnout
Como o Ministério da Saúde define: Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante – trecho do extraído do próprio site.
Mas importante saber que a exaustão, estresse e o desgaste não se dá só pelo excessivo volume de trabalho. Os sintomas do Burnout também é causado pela insatisfação e sensação de fracasso repetidamente. Este é um dos 3 fatores que é parte da explicação sobre as causas da síndrome de Burnout do estudo da Psicóloga Christina Maslach e pode-se encontrar no livro A Revolução do Altruísmo, de Matthieu Ricard.
Coloco este ponto para que de partida, saibamos que os fatores, causas e consequências não são tão simples quanto as definições que encontramos por ai.
Como eu posso lidar?
Nos últimos anos eu ouvi alguns relatos, seja de pessoas que passaram por um transtorno ou quem presenciou um. Além da condição da pessoa que sofreu ser dolorosa, quem presenciou também sente uma dor.
A preocupação de se sentir impotente e não conseguir ajudar também nos causa ansiedade. Não queremos ver ninguém passando por isso e a falta de conhecimento e ferramentas necessárias para lidar com o problema de um colega de trabalho, pode se tornar, sem a intenção, prejudicial. Em vez de ajudar, infelizmente, atrapalhamos.
Eu posso dizer que já atrapalhei, a pessoa e/ou o processo como um todo. Por isso fui conversar com uma pessoa que admiro muito e começou a falar sobre o Burnout, dado a experiência em primeira pessoa. Conheci a Carol Miltersteiner quando eu trabalhava na Avon. A vi trabalhando a mil por hora, em projetos intensos até quando eu soube que ela se afastou do trabalho.
Passaram alguns anos, acompanhando-a através do Linkedin, a vi falando abertamente sobre o processo de recuperação e entrei em contato há um tempo atrás, perguntando como eu posso ajudar ao me deparar com um colega acometido por Burnout. E ouvindo a história dela e estudando sobre equilíbrio emocional, autocompaixão e compaixão, percebi que se quisermos ajudar mesmo, não precisamos muito, mas precisamos ser muito cuidadosos para acolher esse sofrimento.
A primeira coisa é: não julgue. Não importa o gatilho, o que importa é que o sofrimento e a dor são reais independentemente do motivo. Tudo que precisamos no momento é julgar se a pessoa é forte/ resistente ou não. Se a causa é um grande ou pequeno problema. Mas se o julgamento para você é ainda inerente, esteja atenta (o) e consciente disso.
Não deduza a causa do problema. Você não é um investigador (muito menos psicólogo) e deduzir qual foi a causa para tentar ajudá-la (o) pode atrapalhar mais ainda. O processo de quem sofre não é um processo simples e por isso, pode levar um período até que a própria pessoa entenda e reconheça as suas causas.
Ofereça seu tempo para escutá-lo. Faça isso se vocês forem próximos ou se existir oportunidade para isso. Cuidado para não ser invasivo, quando estamos passando por problemas, nem sempre queremos que as pessoas saibam disso, muitos podem não se sentir à vontade para falar. Mas se seu tempo oferecido foi aceito, o processo de escuta não envolve julgamentos e conselhos. O processo de escuta é estar presente de forma empática e não buscar soluções para ajudá-lo a resolver.
Se você sabe que alguém está enfrentando um processo de Burnout, reporte institucionalmente dentro do seu trabalho. Seja para seu gestor imediato ou para a área de Recursos Humanos (reporte para quem você sabe que pode cuidar do assunto com segurança). Faça isso com intuito de alertar a sua empresa para que ela ofereça o melhor suporte para o processo da pessoa que sofre e dos colegas de trabalho que são próximos (colegas do mesmo time e o gestor imediato).
E claro, esperamos que as empresas estejam buscando conhecimento, suporte e profissionais adequados para melhor orientação de como proceder nesses casos. O processo de cura é um processo longo e que envolve oferecermos espaço adequado para isso. O problema é real e o ambiente de trabalho favorece que ocorram crises de Burnout, principalmente em nosso meio: agências de publicidade que atuam sem processos lineares, com pouca previsibilidade e com gestores ainda pouco preparados.
Como eu posso estar preparado para dar suporte a uma pessoa próxima?
Para que você consiga se libertar dos julgamentos e diagnósticos baseado em inferências, minha sugestão é: procure se informar sobre o assunto, isso vai ajudar, inclusive, a você mesmo.
Busque livros, artigos científicos e pessoas que sofreram e que estão aptos hoje para contar o processo dele, assim como fiz, procurando a Carol para ouvir o processo dela. Reforço que eu ouvi o processo dela, e de forma alguma posso considerar que é o processo de todos. Mas conversar com ela, me deu a clareza de quanto a dor é grande e principalmente, como o processo é delicado para a pessoa e para todos em volta.
Esteja disponível para apoiá-lo de forma empática, esteja disponível para ouví-lo com atenção e generosidade.
Como ela mesmo me falou, quando alguém está com o braço quebrado, vemos de longe a faixa e isso faz com que a gente tenha todo o cuidado possível e evite aproximar da ferida. O mesmo não ocorre com quem está sofrendo algum transtorno, não enxergamos as feridas.
Referências
Livros:
- A revolução do altruísmo, Matthieu Ricard
- Um coração sem medo, Thupten Jinpa
Blog/ Sites:
- https://www.thebetterachiever.com/ – esse é o site da Carol Miltersteiner, a mulher maravilhosa que cito no meu texto.
E por último, se posso aqui aproveitar o espaço, incorpore a meditação em sua rotina. Através da meditação, você pode desenvolver ferramentas que ajude a lidar melhor com a ansiedade, assim como desenvolver uma melhor capacidade de atenção, para o outro e para você mesmo.