A vulnerabilidade na liderança
“Vulnerabilidade é basicamente incerteza, risco e exposição emocional”
É com essa frase de Brené Brown que eu inicio o assunto de hoje.
Você já se sentiu vulnerável no ambiente de trabalho? Você já expôs os seus medos e angústias para as pessoas que lidera ou para os seus líderes? Você se considera um líder corajoso o suficiente para permitir que a sua vulnerabilidade apareça? Essas e outras perguntas que envolvem a sua exposição aos colegas de trabalho muitas vezes fazem com que as pessoas construam um personagem, uma carcaça, uma máscara dentro do ambiente corporativo.
Em “Coragem para Liderar”, Brené Brown fala sobre a importância de reconhecer a vulnerabilidade e dar espaço a esse sentimento que muitos de nós negamos por medo ou vergonha de parecermos frágeis ou incompetentes perante nossos líderes e liderados.
Há algumas semanas, a agência onde trabalho abriu um espaço (via Zoom) para quem quisesse compartilhar as vivências durante o período de isolamento social. Uma das voluntárias levou como tema a vulnerabilidade e fez com que mais de 40 pessoas saíssem desse papo com lágrimas nos olhos e um sentimento de gratidão profunda por entenderem que está tudo bem ser vulnerável e que uma grande parcela das pessoas que te ouvem também estão passando por momentos iguais, mas ainda não tiveram coragem de se expor. Foi uma experiência maravilhosa, que me levou a analisar toda a minha trajetória corporativa até o momento, além de despertar uma vontade de aprofundamento no assunto.
Durante minhas pesquisas, me deparei com uma frase do General Douglas MacArthur, militar, escritor e comandante do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial: “[…] seja forte para saber quando é fraco e corajoso o bastante para enfrentar a si mesmo quando tiver medo.”
O mercado precisa de líderes corajosos e para isso é necessário parar, reconhecer suas fraquezas e encarar seus medos, mas quando se está em uma posição de liderança, a dificuldade aumenta.
Quando nos tornamos líderes, aparenta vir uma armadura junto com a responsabilidade – uma voz que lá no fundo diz: “você não pode errar, existem pessoas se espelhando em você, você precisa ser exemplo, você precisa fazer certo”. E é por conta dessa pressão que muitos líderes de hoje não consideram a vulnerabilidade como opção no dia a dia, afinal, o que o seu time irá pensar de você?
Brené também fala que:
“líderes se utilizam de pensamentos, comportamentos e emoções como forma de proteção, evitando lidar com a vulnerabilidade. Para desconstruir essa armadura, é preciso ter autocompaixão e paciência”.
Quando você contrata alguém para o seu time, além de todas as qualidades técnicas analisadas, também leva em consideração o famoso “o santo bateu” ou “rolou uma química”, do contrário, a contratação seria um erro, certo? E quando o santo bate, você precisa confiar, você precisa saber que aquela pessoa está aberta ao diálogo e que não te julgará por algum erro ou posicionamento diferente do dela, pois precisam aprender juntos. Você é o exemplo simplesmente porque tem mais experiência, vivência na área ou por assumir a posição de liderança, mas todos têm a aprender, independentemente de hierarquia.
Em 2018, quando voltei da minha licença maternidade, após 4 meses afastada, fui recebida com muito carinho, mas com a notícia de que eu tinha perdido a liderança do meu time de Projetos e que passaria a gerenciar algumas contas específicas dentro da agência. O meu primeiro sentimento foi de raiva, depois de tristeza e por último, tive vergonha. Vergonha de não ter conseguido manter o meu cargo, de parecer incompetente, de ter perdido o meu tão amado e querido time. Naquele momento, me disseram que era uma necessidade da agência, mas eu me senti tão reclusa perante a minha equipe, que não consegui falar nada para eles, não consegui ouvi-los e nem dei a oportunidade deles me abraçarem e me acolherem, eu simplesmente olhei para frente e voltei a trabalhar, afinal, existia um mini ser humano na minha casa que dependia de mim e eu ainda carregava uma armadura.
A cultura da empresa em que você trabalha é essencial para que essa “aceitação da vulnerabilidade” faça sentido. De nada adianta você estar pronto para expor suas ideias, sem medo e sem julgamentos, mas do outro lado ter pessoas que te repreendem, que riem quando você erra, que criticam sua performance pelas suas costas. Os líderes precisam apoiar a cultura de pertencimento, diversidade, inclusão e fazer com que seus liderados sintam confiança naquele ambiente de trabalho e naquelas pessoas que os rodeiam.
Você já deu atenção às emoções e sentimentos da sua equipe? Já procurou saber se eles gostariam de expor ideias em reuniões ou se sentem confortáveis para isso? Já entendeu se existe algum problema pessoal que pode estar, naquele momento, afetando a performance dele no trabalho? Se ainda não fez, faça! Dê a abertura e esteja disponível, mas faça com plena atenção, escute o seu liderado, entenda o que ele está dizendo, conecte-se. Eu aprendi a fazer isso na minha liderança. Nenhum assunto que pertença a alguém da minha equipe é ignorado e isso vai desde uma dificuldade de relacionamento no ambiente de trabalho à preocupação com a avó que está passando por uma cirurgia. Eu aprendi a ser uma pessoa mais empática e a julgar menos, principalmente depois que me tornei mãe.
É preciso ouvir até mesmo o que não é dito. Certa vez estava em uma reunião presencial com um gringo C-Level quando ele pediu que nos apresentássemos com nome, cargo e contas que atendíamos na agência. Obviamente a pessoa que começou a rodada de apresentações se dirigiu a ele em inglês. No mesmo instante, olhei ao redor da sala e percebi o incômodo e a tensão de algumas pessoas que não falavam a língua. A cada um que se apresentava, a tensão aumentava: via-se pés balançando, mãos que suavam, enfim, uma situação completamente desconfortável. Quando chegou a hora de uma dessas pessoas se apresentar o gringo disse com sotaque: “Você falar português, eu tentar entender, não preocupe”. Foi um alívio para pelo menos 40% das pessoas que estavam ali. Ele percebeu a tensão, entendeu que quem estava fora do país era ele e não quis deixar deixá-las vulneráveis perante uma sala toda.
Quando você procura enxergar os outros pontos de vista, se colocar no lugar do outro, você cria uma conexão que vai além de trocas de e-mails, de vídeo conferências e de reuniões. Quando você vê no outro a coragem e a ousadia para se abrir, você se sente mais livre para ser vulnerável, sem medo de julgamentos. É disso que a gente precisa, seja no mundo corporativo, seja em qualquer tipo de relação ou interação com pessoas: mais diálogo, empatia, se permitir viver sem uma armadura que esconda a nossa vulnerabilidade e entender que para evoluir, primeiro precisamos nos tornar mais humanos.