Adobe e sua lição anti-crise
Lutar contra um momento de incertezas, volatilidade e redução expressiva de faturamento, pode ser um tremendo pesadelo para quem administra um negócio. Se o negócio envolve publicidade então, o pesadelo triplica, já que há um consenso geral de que a verba destinada ao MKT é descartável e frequentemente é a primeira a ser atacada pelas empresas.
Por isso, para quem empreende ou gerencia um negócio que pode ser fragilizado facilmente por uma “marola“, precisa mirar seus esforços para acertar mais do que errar.
Isso pode ser um desafio bem grande, principalmente porque em um mercado encolhido e fragilizado, as pessoas tendem a experimentar menos. Achar um meio inteligente de equilibrar as contas com pouco ou nenhum investimento, é sem dúvida um grande quebra-cabeça.
Ter uma visão periférica sobre o seu mercado, e aprender como grandes empresas lidaram com suas crises internas, pode ajudar a aguçar a criatividade e ampliar suas ideias para que a luta não seja perdida.
A Adobe, sem dúvida é um exemplo neste aspecto. Adquiriu a Macromedia em meados de 2010 e trouxe para o seu portfólio o Flash, Shockwave, fireworks e outros produtos que a ameaçavam diretamente e que estavam em alta. Mas nem tudo é sucesso. Um grande inimigo acabou vindo junto: A pirataria.
Comprar uma versão original de um software Adobe até pouco tempo atrás, poderia custar alguns milhares de dólares. O pacote completo chegava a custar US$5,000.00 para 1 único usuário. E com o dólar nas alturas, obviamente, a grande maioria optava pelo jeito mais fácil: Torrents, Google, DVD da banca e outras formas obscuras.
Em toda a minha carreira dentro de agências, vi pouquíssimas vezes um DVD original de qualquer software Adobe. Nem mesmo as grandes agências estavam dispostas a arcar com esse custo.
Foi aí que utilizando a criatividade somada à tecnologia e inovação, a empresa conseguiu reduzir o escape de sua receita. Ela parou de comercializar licenças individuais e físicas através de um DVD, para criar licenças gerenciadas na nuvem por meio de uma assinatura mensal. E aí tudo mudou.
Ao invés de pagar US$5,000.00 por um pacote único de softwares, seus clientes passaram a pagar uma mensalidade de US$49.99, que além de permitir acesso a toda a biblioteca de softwares, ainda lhe dá acesso a atualizações frequentes. E não é só isso, há planos mais simples, a partir de US$9.99 que inclui um bundle de softwares específicos para fotógrafos, por exemplo.
Numa tacada só, a Adobe reduziu seu custo de produção, já que imprimir DVD e distribuir para revendas custa uma fortuna, e trouxe mais gente para a “legalidade“, já que as vantagens cresceram absurdamente em relação ao DVD pirata ou o Torrent comumente usados para ter acesso aos softwares da cia.
Mas logo, a empresa enfrentaria uma outra crise cabeluda. A Apple de Steve Jobs estava bombando, com seus iPhones, iMacs e Macbooks até que lançou o Ipad. O mundo aplaudiu, menos a Adobe.
A nova febre de Jobs, entrou em conflito direto com os interesses da Adobe, quando anunciou que seus iPads não dariam suporte ao flash, a ferramenta mais utilizada para criar conteúdo multimídia até então.
Aos poucos, os navegadores foram dificultando o acesso ao plugin do Flash. Os vídeos da web deixaram de ser veiculados no formato FLV e então o Google assinou o atestado de óbito da ferramenta anunciando o fim do suporte ao plugin em seus navegadores e suas campanhas.
Foi aí que a empresa deu outro show no gerenciamento de crise. Primeiro, ela liberou o Adobe Edge Animate que entregava animações sem a necessidade de instalação de um plugin, e por algum tempo, ela conseguiu manter a briga de igual pra igual com o Google Web Designer, ferramenta de animação do Google.
Mas foi um pouco mais tarde que o grande salto aconteceu. A ferramenta foi reescrita, e seu nome também mudou. O Flash deixou de existir e nasceu o Animate CC, uma ferramenta antiga e familiar, mas com um core completamente novo, atendendo aos novos padrões exigidos pela web.
Está dando certo? Aparentemente sim. Desenvolvedores do mundo todo já usam o Animate CC para entregar suas campanhas e conteúdo multimídia mais simples com a mesma velocidade de antes, mas sem a necessidade de um plugin. Os fóruns da empresa e conversas com profissionais de outros países confirmam o fato. É óbvio que há casos em que o bom e velho código de raiz, ainda é melhor.
Mas o que isso tudo tem a ver com o nosso momento no Brasil?
Tudo! Diante do terror da recessão, não desista. Lute, crie, empreenda. Seja criativo.
Pode ser difícil, mas se dá pra sonhar, dá pra fazer, já dizia o querido Walt Disney.
Tire aquela ideia da gaveta, junte amigos e coloque aquele serviço bacanudo para funcionar. Procure parceiros para criar aquele produto que você pensou e que até agora ninguém teve a “sacada“ para colocar em prática.
Se tem uma coisa que é boa na crise, é a capacidade dela de obrigar as pessoas a saírem de suas zonas de conforto e criarem soluções criativas para fugirem dela.
Aprenda com o seu mercado, e com os outros também. A tecnologia pode inovar serviços e funções, e não é isso o que nós fazemos? Não construímos webservices, aplicações e apps para os outros? Não criamos as tendências e inovações?
Então seja o vendedor de lenços e deixe o choro para os outros.